Uso do telefone celular e redes sociais: chupetas do ser humano da "era digital" (?!)
- Henrique Fernandes
- 21 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de jul.

É muito comum as pessoas utilizarem o telefone celular nos seus tempos livres, navegando em redes sociais, e sentirem cansaço decorrente desse uso. Mas ainda assim, elas não conseguem passar muito tempo sem verificar se alguém enviou uma nova mensagem, ou se aquela mensagem enviada já teve resposta.
Pessoas que tinham apenas telefone fixo em casa devem se recordar de inúmeros encontros que não deram certo em virtude de algum atraso da pessoa que estavam esperando (já que não haviam muitas alternativas de comunicação fora de casa, e que, mesmo se utilizasse um "orelhão", correria o "risco" de sair do local marcado, para fazer a ligação).
Ou então das mensagens limitadas de SMS (à época em que os telefones celulares começaram a se popularizar e ser adquiridos em virtude da queda dos custos), que exigiam uma "energia" comedida na comunicação com a pessoa amada, pois caso contrário os créditos acabariam inclusive para se fazer uma ligação telefônica. E mesmo com essa facilidade de comunicação por mensagem a qualquer hora, existia uma diferença do SMS em relação aos recursos que dispomos atualmente (tomando como exemplo o Whatsapp®): a questão do limite.
"Ausência de limite" é a natureza das redes sociais, e do instrumento onde elas se localizam e funcionam. Na Grécia antiga, berço da civilização ocidental, a ultrapassagem de limites era nomeada como ὕβρις (hybris), e conduzia as pessoas à Ἄτη (atê), que significava ruína ou loucura. Para alertar os habitantes das pólis sobre os males decorrentes da desatenção aos limites próprios da existência, peças teatrais (as tragédias) foram escritas e apresentadas ao público.
Nos tempos atuais temos exatamente o contrário: um estímulo ao consumo das redes sociais, as quais, através de seus conteúdos, acabam dando certo conforto a qualquer demanda que seja procurada pelo usuário. E com o desenvolvimento da tecnologia dos algoritmos e da inteligência artificial essas redes ficaram ainda mais sedutoras, pois parecem atender exatamente às necessidades de quem as utiliza, o que consequentemente gera mais adeptos e tempo nelas investido.
Nesse sentido, se você está passando por uma dificuldade de relacionamento e curtiu algum conteúdo relacionado a isso, a rede vai apresentar uma série de postagens que se articulam ao tema. E isso acontece com todos os campos da atividade humana, de modo que é comum em rodas de amigas(os) a brincadeira em torno do botão de lupa (seção "pesquisar e explorar") do Instagram®: as pessoas pedem o telefone do amigo e clicam nessa seção para saber o que ele tem visto nesse aplicativo, quase que como um "diga-me o que pesquisas e te direi quem és!"
E é justamente aí que reside um problema: pode-se passar muito tempo nos aplicativos, pois cada postagem traz uma sensação de alívio e de saciedade frente a uma situação dolorosa da vida. E com o tempo, ela pode gerar novos comportamentos e hábitos, os quais, sem a devida reflexão, levam o usuário a mais dor e sofrimento. Você deve conhecer pessoas que fizeram alguma compra da qual se arrependeram logo depois (pois não precisavam do produto), ou que terminaram um relacionamento por conta de uma postagem de um influencer dizendo que ela deveria ter amor próprio diante de um comportamento do namorado (caracterizado como "tóxico"), ou que fizeram algum procedimento estético que demandou um elevado custo (e gerou uma dívida financeira) simplesmente porque havia uma promessa de elas ficarem mais bonitas.
A lógica das redes sociais é a da técnica, como Heidegger já havia alertado há mais de 70 anos: produção de larga escala, rápida, e eficiente. A natureza fica à disposição da vontade humana - que pode ser ilimitada. Mas o principal problema se refere ao fato de ela aprisionar o ser humano e o tornar alienado; ele deixa de questionar essências ou propósitos daquilo que está consumindo ou realizando. Ou seja, além da destruição de recursos naturais, ocorre também a devastação do humano, já que ele se torna manipulável e previsível (algoritmos, inteligência artificial), e se esquece de si, dos seus problemas, das suas questões fundamentais de vida. E enquanto isso, as "Big Techs" seguem enriquecendo às custas dessa alienação.
Ou seja, as redes sociais e os aparelhos de telefonia celular são grandes chupetas do mundo atual: durante seu uso oferecem relaxamento e conforto, a um custo eficiente e rápido (pois os conteúdos simplesmente aparecem ali, sem esforço). Mas de modo diferente do que acontece com os bebês, quando esse recurso os levam a dormir, as chupetas dos adultos os conduzem ao sono da alma, e, portanto, mais perigoso e devastador - se levarmos em conta a etimologia dessa palavra (alma vem do latim "anima", que significa princípio vital).
E os efeitos práticos, é claro, são o aumento e intensificação de emoções e sentimentos, da impulsividade (tentativa de resolver as coisas de forma muito rápida, no tempo adequado à produção industrial), e da procrastinação. Além disso, e mais grave, é a constatação, ano após ano, através dos relatórios da Organização Mundial da Saúde, do aumento da ansiedade, da depressão e do suicídio (fenômeno presente também entre o público infantil e adolescente), bem como de algumas tragédias sociais como o Hikikamori (isolamento social extremo em que a pessoa se retira completamente do convívio social por mais de seis meses, e está presente em diversos países localizados no Oriente, como Japão, Coréia do Sul, Austrália, Índia e Finlândia, e também no Ocidente, como Reino Unido, Itália, Espanha, França, Portugal e Brasil).
Diante dessa problemática, torna-se cada vez mais necessário fazermos um uso consciente, limitado, das nossas "chupetas". Outrora, em tempos primevos, seu uso excessivo poderia nos levar a problemas dentários (mastigação, arcada dentária), infecções e dificuldades na fala (entre outros). Nos tempos atuais elas podem nos levar a caminhos de dor e sofrimento. Ou seja, é fundamental aprendermos a parar, respirar e cuidar* do nosso ser.
E quanto a você? Já sentiu necessidade de reduzir o uso do telefone celular e das redes sociais, mas não consegue? Você possui alguma questão, dificuldade ou sintoma que foi apresentado nesse texto? Entre em contato comigo! Fico à disposição para te auxiliar a lidar melhor com o que está acontecendo!
*Publiquei uma matéria com esse título no blog do site. Dê uma passadinha lá para saber do que se trata!
