Relacionamentos difíceis
- Henrique Fernandes
- 24 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jul.

Tem sido recorrente vermos nas mídias notícias acerca do aumento do número de divórcios e de pessoas que optam por não se relacionar afetivamente. Essa problemática não tem uma causa específica, mas multifatorial: avanços sociais (legislativos, econômicos, educacionais), adoção de novos costumes (configurações familiares), e facilidade de acesso e escolha de novas(os) parceiras(os) - só para citarmos alguns dos inúmeros que existem.
Nas redes sociais, coachs, psicólogos, psiquiatras, influencers, e artistas publicam enxurradas de conteúdos sobre "amor próprio", "luto de relacionamento", "como se blindar emocionalmente", apresentando alguns comportamentos como característicos de diagnósticos psiquiátricos (como o Transtorno de Personalidade Narcisista e de Personalidade Borderline, Transtorno do Espectro Autista, e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, para citar os que mais são comentados). Na música, cantoras e cantores lançam hits sobre o amor e tipologias de personalidades. E desse modo caminhamos à beira do abismo do distanciamento entre casais e de disputas que podem levar a graves consequências - como violência moral e psicológica, por exemplo.
Mas o intuito principal deste texto é tratar de um tema específico, análogo ao de outra postagem que fiz no site - relativa a vícios em determinados estímulos. Assim como essas substâncias, e tão deletéria quanto elas, os relacionamentos amorosos podem levar pessoas a quebras psíquicas difíceis de serem tratadas, com elevados custos às saúdes física e emocional.
Você já ficou obcecada(o) por alguém (ficar pensando muito na pessoa, sentir aflição, pensamentos catastróficos, medo, dúvida) que demorava dias para responder mensagens, ou tinha "sumiços" repentinos sem explicações com reaparições repletas de demonstrações de afeto, ou que queria encontrar apenas de vez em quando e não te tratava com respeito e consideração, ou que não deixava claro se queria ficar contigo? Esse tipo de comportamento é chamado de "evitativo" e ativa em nosso cérebro o "sistema de recompensa", que libera um neurotransmissor chamado "dopamina" (responsável pela motivação, aprendizado, memória, e sensação de prazer, entre outros).
O comportamento de evitar e depois de dar afeto, dentro da psicologia comportamental, é caracterizado como de "reforçamento intermitente": a recompensa é fornecida apenas em algumas ocasiões depois de um comportamento esperado, e não de forma constante. Ou seja, a pessoa uma hora age com afastamento, e outra com afeto (sendo que isso pode variar). E então se estrutura uma questão: a criação de expectativa e de resistência à extinção (término do comportamento), já que a dopamina indica ao cérebro o que deve ser priorizado e repetido para que o organismo sinta prazer novamente.
Isso leva também a inúmeras tentativas de ter a recompensa (o prazer) novamente, de modo que a expectativa acaba sendo maior do que o próprio estímulo que gera prazer. Ou seja, esse "vai e vem" do outro, a inconstância, a imprevisibilidade, o afastamento, a evitação, a confusão, a falta de compromisso, e a incoerência podem* fazer com que você ative sistemas de medo, ansiedade, insegurança e estresse em relação à pessoa que você deseja - exatamente como acontece no cérebro de uma pessoa que tem dependência em álcool e outras drogas (ou em algum outro estímulo, conforme apresentei no outro texto disponível no site). E quando isso acontece, é extremamente importante buscar ajuda profissional para cuidar de si, por conta do grave risco à saúde de modo geral.
E você, como está na sua vida amorosa? Sente que precisa de ajuda para lidar com a problemática apresentada, ou que, por mais que avalie estar em um bom relacionamento, tem sentido mal-estar por não conseguir ser aceita(o) exatamente como você é? Entre em contato comigo! Podemos construir estratégias para que você tenha uma vida mais satisfatória, de aceitação e compromisso com os teus valores mais significativos!
*O destaque foi dado em razão de esse tipo de comportamento não necessariamente desencadear essas reações e/ou problemas de saúde mental como a dependência, pois isso está articulado a outros fatores, como por exemplo a adaptação (as pessoas podem se acostumar ao modo de ser do outro e passar a não se incomodar com isso), habilidades emocionais (capacidade de autorregulação diante da frustração) e de cuidado de si, da forma como se lida com os limites pessoais e os da outra pessoa, do estilo de apego, entre outros. Daí a importância da psicoterapia para a compreensão, elaboração e articulação dos diversos afetos e dinâmicas que são estruturadas na relação.
